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LUTA POPULAR - MG | OCUPAÇÕES WILLIAM ROSA E MARIÃO

Há quase 7 anos nascia em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, a ocupação William Rosa. Os moradores da ocupação sacudiram a cidade que desde sempre foi controlada por coronéis que usavam direito à moradia como uma possibilidade para a famosa prática da troca de favores. Era comum o debate político girar em torno daquele que “rouba, mas faz”, que isentava os governantes de quaisquer responsabilidades morais e éticas. Bastava “fazer”. E foi a partir dessa lógica que um desses coronéis fez a carreira política, não só dele, mas da esposa, do filho e de outros familiares ao construir, na sua primeira gestão, centenas de casas populares em um bairro extremamente afastado que hoje é conhecido pela marginalização, domínio da violência e precariedade da vida. 

Mas, apesar de durante muitos anos a moradia ter sido uma ferramenta para se manter no poder nas mãos de políticos populistas, esses nada mais fizeram que projetos de remoção de comunidades atingidas. Nunca existiu um programa de moradia na cidade que atendesse aos trabalhadores mais pauperizados. E sai coronel, entra coronel, o povo pobre foi obrigado a ocupar as piores áreas, assim como em todas as grandes cidades do país.
  
Construída para abrigar um parque industrial e seus trabalhadores, Contagem até hoje apresenta uma estrutura extremamente precária com a saúde e as escolas públicas sucateadas, sem que os direitos mínimos a uma vida digna sejam garantidos. Mas apesar da precariedade, Contagem, assim como Belo Horizonte, se transformou em uma cidade muito cara para o trabalhador mais empobrecido, fazendo com que houvesse um crescimento acelerado das favelas e ocupações de áreas extremamente precárias.                                                     

A ocupação do terreno do Ceasa, no bairro Laguna - um dos bairros com maior contingente de famílias em situação de vulnerabilidade social -   apresentou-se como a saída para tantos que, mesmo muito empobrecidos, pagavam aluguel na região, ou moravam de favor na casa de parentes e amigos. No mesmo dia da entrada, as famílias do entorno já se somavam às famílias ocupantes e no primeiro final de semana, a ocupação já abrigava quase cinco mil famílias.

Essas famílias enfrentaram de tudo no terreno, muita chuva, muita lama, inundações, violência e todo tipo de precariedade. Foram cinco anos vivendo no madeirite, resistindo ao despejo que se colocou como ameaça desde as primeiras horas. 

Nessa caminhada, somaram-se 34 famílias que ocupavam um prédio abandonado pelo poder público no bairro Maria da Conceição. Os prédios, praticamente prontos, faziam parte de um projeto de verticalização e realocação de famílias moradoras de áreas de risco na cidade, mas se encontrava inacabado há cinco anos, sem cumprir sua função social, desocupado, enquanto tanta gente não tinha onde morar. Nasceu assim a Ocupação Marião. Tendo a sua frente mulheres, essas 34 famílias enfrentaram a guarda municipal e resistiram bravamente ao despejo colocado pela Prefeitura, fazendo os agentes do Estado recuarem o que lhes deu possibilidade para negociar! Acabaram se juntando a William Rosa, quando foi inevitável fazer um acordo que garantisse a segurança das mesmas. Isso porque, tanto as famílias da William Rosa, quanto do Marião, estavam sendo duramente atacadas pelos governantes - eram naquela época, Carlim do PCdoB e Pimentel do PT -  que colocaram, quase que diariamente, um gigantesco aparato policial para amedrontar o povo que resistia.

Não foi sem muita luta, sob a pressão de bala de borracha, bomba de efeito moral, helicóptero com atirador de elite e incêndios criminosos dos barracões de madeira, que essas famílias optaram pelo despejo voluntário. 

E são as inúmeras e constantes lutas que estão garantindo, três anos depois, a continuidade do pagamento do auxílio aluguel. Essas famílias estão há três meses sem recebe-lo, mas também sem recuar! Todas as semanas, desde que o atraso começou a acontecer com mais frequência, estão nas ruas reivindicando, não só o pagamento do auxílio, mas a solução definitiva: a construção de suas casas, como previsto no acordo assinado entre as famílias e os governos com a anuência da Justiça. 

Dois anos de ocupação Professor Fábio Alves: uma luta contra o mercado imobiliário e o grande capital! 

Agora em outubro de 2020, a ocupação Professor Fábio Alves completa dois anos. Dois anos de luta e resistência de quase 700 famílias. Dois anos de luta por moradia, mas não apenas! Dois anos de luta para que Belo Horizonte seja uma cidade onde os mais pobres também possam morar. 

É claro que a história da luta por uma outra cidade não começa em 2018! Muito antes, o povo pobre já se organizava para ocupar os terrenos e prédios vazios e largados, que não cumpriam qualquer função social. E nessa história da auto-organização do povo, o Barreiro é um território de referência, pois se fez lugar de moradia dos mais pobres a partir das ocupações. A Ocupação Camilo Torres seguiu o exemplo de várias outras, mas foi  a primeira, em um novo ciclo de lutas.  Formada por participantes dos núcleos de moradia da cidade, organizados pelos governos petistas, esses trabalhadores esperaram por anos a fio serem contemplados com uma unidade habitacional que seguia uma fila interminável, já que não existia uma verdadeira política habitacional na cidade. Camillo Torres seguir para a Ocupação Irmã Dorothy, foi parte desse pontapé para que o povo pobre trabalhador acreditasse que a moradia não dependia de umas fila que nunca andava e de um governo que dizia que fazia, mas que na prática só enrolava. E segue sendo resistência do povo na periferia da cidade.

A Ocupação Fábio Alves também se expressa como núcleo de resistência à política de expulsão do povo pobre de áreas habitáveis. Por isso, dois anos depois um terreno que servia de depósito de lixo irregular se tornou um bairro com centenas de casas construídas, ruas, avenidas e famílias que investem todo o ganha pão no único pedaço de terra que já conquistou na vida. A Ocupação se expressa como resistência à implantação de uma política nefasta e imposta pelo capital financeiro, que coloca a habitação, não como um direito a ser garantido para acesso a uma vida plena, mas como objeto de especulação e colonização da terra. Isso porque, apesar do terreno originalmente pertencer a uma área maior doada à empresas privadas como parte de um projeto de implantação de um parque industrial, esse lote pertence agora a uma empresa que é parte de um enorme cartel de grandes corporadoras que se apossaram de terrenos em várias partes do país, chamados então de reservas fundiárias, política responsável pelo assustador aumento nos valores  dos imóveis no país. 

Essa empresa paulista agora ameaça o povo pobre de despejo e, claro, conta com a justiça burguesa para fazê-lo. Do outro lado os moradores seguem em um processo de luta para que o despejo não se efetive e para que a prefeitura, na figura de Alexandre Kalil, reconheça a ocupação como território da cidade já estabelecido que, ao contrário dos governos, deu fim ao problema de moradia de 700 famílias antes totalmente desamparadas.

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